Crônica: A macarronada de domingo


Edicléia Oliveira


É domingo, o dia da macarronada. Dayelle se prepara para ir às compras, toda a família está ansiosa por comer a deliciosa macarronada preparada metodicamente com dez tomates maduros, duas cebolas médias, dois dentes de alho e uma colher de sal. Uhmmm! Só de pensar já deu água na boca da criançada e dos crianções também.

Como toda boa dona de casa, Dayelle se apressa, quer escolher os tomates mais vistosos e com cheirinho de horta. O supermercado não é tão longe de casa, porém Dayelle prefere ir de carro, assim chega mais rápido para começar os preparativos da macarronada. O esposo de Dayelle se antecipa a chamar o restante da família. Pai, mãe, vó, vô, tio, tia, sobrinho, sobrinha, primos, cunhados, não faltou ninguém todos a postos para compartilhar a tradicional receita de domingo. A sobremesa é por conta da vovó; o Chico Balanceado que ela aprendeu aos quinze anos com sua já falecida mãe.

Enquanto isso Dayelle se dirige para as bancas da feira do supermercado.

  - Nooooosa! Que horror!  Ela exclama e quase não crê no que os seus olhos fitam. Uma placa bem grande em destaque para ninguém duvidar dos abusivos R$ 10,00 o kilo. O tomate está mais caro que o macarrão! Eu não vou levar! Que absurdo, acham que agente é trouxa! Vou fazer greve de tomate! Onde já se viu!

Dayelle não se conforma e manda chamar o gerente.

 – O senhor tem filhos? Tem família arretada e nordestina como a minha? Eu vou falar uma só vez. Todo o domingo faço macarronada para minha família e hoje em mais de dez anos de tradição eu não vou fazer. Meus filhos vão chorar, meu marido vai espernear, meus parentes vão se zangar, mas não entra nenhum tomate na minha casa a partir de hoje!

O gerente taciturno diz: Não é minha a culpa, foi a Dilma que pisou no tomate, nós só repassamos o peixe. Mas a senhora pode fazer macarronada ao molho branco, fica uma delícia e ninguém vai reclamar.

- Sai da minha frente se o senhor não quiser ser estomateado.

Todos os clientes no supermercado consolam Dayelle, mas compram tomates.

Ainda irritada ela desabafa: brasileiro não tem jeito, nasce torto e morre torto. Conforma-se com tudo. 

Um senhor ao fundo faz piada para animar: eu acho que agora Leonardo para de cantar e volta pra roça de tomates em Goiás. Todos dão risadas e voltam para as compras.       
 

 

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