The Newsroom | Crítica

Não há meio termo dentro da redação de Aaron Sorkin




Poucas pessoas, pra não dizer ninguém, são capazes de entender a mente de Aaron Sorkin. Ateu, praticamente um cientista político, preso algumas vezes por posse de drogas, fuma todos os cigarros do mundo para escrever e não liga muito para seus fracassos. Uma prova disso é que ele nunca mudou seu estilo. Todos os seriados que criou – e roteirizou – tem basicamente o mesmo formato. Sorkin gosta muito do “Walk and Talk”, uma
técnica bastante complicada na qual o roteirista combina uma grande quantidade de atores se expressando numa ordem complexa, com diálogos intrincados e cenas com poucos cortes. Praticamente tudo o que Sorkin escreve tem essa mesma receita: Conflitos políticos e midiáticos + Walk and Talk, e The Newsroom não é diferente.

A história se passa na redação do telejornal “The News Night”, transmitido pela fictícia AWM – Atlantis World Media, uma emissora de televisão por assinatura. É a primeira vez que Sorkin se volta para o ambiente jornalístico da TV desde o finado “Sports Night”, o primeiro seriado que criou, uma comédia que mostrava os bastidores de um programa esportivo.



A redação do News Night é comandada pelo experiente Will McAvoy, um jornalista esquentado, implacável e altamente volátil, uma versão do Dr. House sempre de mau humor. Aliás, cabe aqui outra comparação. Assim como McAvoy domina seu jornal, o Jeff Daniels ator que interpreta o personagem, certamente a grande surpresa da série, parece comandar seu seriado. Numa deliciosa sintonia entre ele e a cabeça lógica de Sorking, Daniels assume o lugar de McAvoy saindo do limbo em que se afundou com suas comédias pastelão. Ele já não é mais um “debi-loide”.






O conflito central acontece quando McAvoy entra em sua redação e percebe que ela está vazia. Depois de algumas reviravoltas, é avisado que toda a sua equipe se transferiu. Ninguém gostava de trabalhar para ele. Mas nada é tão ruim que não possa ficar pior. McAvoy tem que engolir a contratação de sua ex-namorada, MacKenzie McHale (Emily Mortimer), uma produtora competente e cheia de energia e paixão pela profissão, que, assim como seu criador, escolhe seu pessoal com precisão cirúrgica.

É claro que surpresas são as únicas coisas que não se pode esperar de um roteiro escrito por Aaron Sorkin. Ele detesta surpresas. Em seu filme de maior sucesso, todos já sabiam o final: “A Rede Social”. No entanto, não estou falando sobre esse tipo de surpresas. Ao ouvir que Sorkin está trabalhando em um projeto novo, já dá para ter a certeza que poucas surpresas virão sobre os atores que escolhe, todos muito bem escolhidos, diga-se de passagem. É como um joalheiro que escolhe suas joias com cuidado maternal. Ele parece escrever sobre seus personagens já inspirado no ator que escolheu para compor o elenco. Assistir aos conflitos caóticos do The Newsroom é como estar perdido em uma sinfonia de Bethoven e ouvir a cada uma das notas tomarem seu lugar diante da maestria da composição.



The Newsroon prende o telespectador para o primeiro episodio no silêncio que segue a declaração de McAvoy sobre os Estados Unidos dez segundos antes da marca dos cinco minutos de episódio: “Não é o melhor país do mundo...”. Norte-americanos assistem por que o odeiam, o restante do mundo assiste por que o ama. Sorkin faz questão de seguir esse caminho para nos últimos cinco minutos aprisionar o espectador a partir das reviravoltas que conduziu na redação do News Night com a descoberta do acidente na plataforma de petróleo da British Petroleum em 2010 – sim, The Newsroom se insere em notícias e acontecimentos reais. O telespectador que o odiava, passa a admirá-lo e o que o amava, ama muito mais.





The Newsroom é a série pré-estruturada mais gostosa de assistir que já vi. Sorkin escolhe atores carismáticos, força-os com o Walk and Talk numa história de bastidores e joga um conflito político por cima. Ele gosta de trabalhar, muitas vezes, com os mesmos atores e diminuir ao máximo os cortes em suas cenas. Coloca um jornalista no meio de uma crise entre os personagens para escrever uma reportagem que pode salvar ou afundar o programa retratado na série e senta para assistir o resultado. Nada em Newsroom é novo, embora possa parecer. A história é inteligente, e os diálogos são intensos. É difícil parar para pensar que ele já fez exatamente a mesma coisa no “Studio 60 on the Sunset Strip”, no “The West Wing” e no “Sports Night”. Quando você se dá conta disso, já está imerso na história sem chance de retorno.



The Newsroom só tem uma diferença dos outros seriados do Sorkin. É a primeira vez que ele faz isso. Todos os seus personagens são construídos para serem amados imediatamente, mas com McAvoy você pode escolher odiá-lo. Ele é o Michael Bay das redações, ou você ama ou odeia. Não tem meio termo.




The Newsrom volta na HBO USA no dia 14 de julho, ainda sem previsão para estreia no Brasil. Aaron Sorkin promete uma nova estrutura, um conflito que se estende por toda a temporada. Confira o primeiro trailer da segunda temporada abaixo.



 Bruno Quaresma